Por:
Rafael Vargas
Administrador
do Terceiro SetorGestor de Projetos Sociais do Instituto Ágora
O Estado de Rondônia iniciou em 2012 o processo de Interlocução Política com a participação de diversos representantes das organizações da sociedade civil e do governo para discutir o projeto de lei nº 788/2013 que dispõe sobre a “qualificação, concessão, manutenção e cancelamento das titulações de utilidade pública, organização social e de organização da sociedade civil de interesse público e também criar um sistema integrado de parcerias e descentralização da execução das políticas públicas e serviços públicos não exclusivos através do Terceiro Setor” (SISPAR). Acredito que o tema entrou na agenda do Governo do Estado, pois era uma das prioridades para promover o diálogo e a realização de

parcerias entre o Estado e as organizações
da sociedade civil (OSC) para o enfrentamento da pobreza e da exclusão, por
intermédio de iniciativas inovadoras de desenvolvimento social. Nesse contexto,
especial ênfase é dada ao fortalecimento da sociedade civil, o que exigi o
enfrentamento a incompatibilidade da legislação que regi o setor e os novos papéis
que as organizações vêm assumindo, bem como adequar a regulação às exigências
de publicização e controle social demandada pela sociedade e às exigências de
flexibilidade nas relações com o Estado de Rondônia.
E esperamos que o Estado de Rondônia
através do SISPAR, seja realmente um instrumento de credenciamento, titulação,
repasse, controle e acompanhamento das transferências de recursos públicos para
o atendimento de políticas públicas específicas e projetar e executar um
programa contínuo de capacitação dos dirigentes e do corpo técnico das OTS de
maneira que elas desenvolvam mais e melhores projetos e que possam inovar e
criar mecanismos de captação de recursos, inclusive trabalhando em parceria.
Neste
contexto existem algumas dúvidas sobre as posições conceituais que
embasaram a construção do Projeto de Lei 788/2013, que agora é a Lei
3.122 de 01 de julho de 2013. Analisando a construção das alternativas e as
diferenças entre os diferentes interesses e principais embates políticos dos
atores envolvidos durante e a formulação desta Lei, tenho tentado responder as seguintes perguntas: Como foi criada
a proposta? Como foi o processo de
negociação e obtenção de consenso entre os atores do Estado e da Sociedade para
elaboração desta Lei? Como se enfrentou
a resistência das Organizações do Setor e segmentos corporativos, como os
ligados a Assistência Social e filantropia?
Como foi a negociação entre os atores do governo, da sociedade e do
legislativo durante a discussão da lei? Importante
lembra aos Governantes do Brasil em especial do Estado de Rondônia que o
excesso de controle governamental pode estrangular as organizações do terceiro
setor, de acordo com estudo “Building
trust in charitable giving” traduzindo “Construção de confiança em doações de caridade”, esse estudo lançando
mundialmente em janeiro de 2014. Acompanhando
desde o começo a construção da Lei 3.122 de 1 de julho de 2013, assim
denominada “Marco Regulatório do
Terceiro Setor no Estado de Rondônia” uma iniciativa louvável, mas, como
sempre, alguns governos acreditam ser tarefa deles construir a confiança do
terceiro setor, e a partir dessa crença “equicovada” criam
sistemas regulatórios que demandam registros e prestações de conta em excesso
com objetivo de garantir padrões mínimos de confiabilidade. “Isso é
contraproducente”. Ainda que os governos
tenham o dever de assegurar que as organizações sem fins lucrativos sejam
transparentes e prestem contas, não têm de serem os guardiões da sociedade
civil. A confiança não é construída, é conquistada. Importante ressaltar que em países em que os
cidadãos não confiam no poder público, quanto mais o governo controla a relação
entre as organizações sem fins lucrativos e a sociedade civil, mais esta vê com
maus olhos o processo e as próprias entidades.
Mas mesmo nos países em que as pessoas confiam nos governantes à
intervenção pode ter consequências ruins. Tende-se acreditar que a regulação
garanta a atuação adequada das entidades. O efeito é que se torna impossível
para as organizações da sociedade civil conquistar confiança. Assim, o sistema se fragiliza: exemplos
isolados de má atuação resultam em crise de confiança que afeta o setor como um
todo. Em países em desenvolvimento, a regulação de organizações da sociedade
civil com base em padrões internacionais pode prejudicar estruturas informais
de solidariedade já muito enraizadas nas comunidades. O poder público deveria,
nesses casos, ajudar a fortalecer os modelos tradicionais, que já contam com a
confiança dos cidadãos, para fortalecer o investimento social privado. Mas que essa confiança aconteça através do
executivo, os Secretários (as) dos executivos municipais e estaduais, tem que
ter a flexibilidade de compreender o Terceiro Setor. Em Rondônia ainda temos um perfil de
executivo idiossincrático, onde dificulta o desenvolvimento dos trabalhos
quando tem a falta de interesse dos próprios executivos do governo.
De
acordo com o estudo, traz algumas recomendações para que o poder público tanto
de Rondônia mas de todo o mundo possa desenvolver melhor os trabalhos com este
setor:
1 - Registro: é
importante para que o governo compreendam melhor o tamanho e a ação da
sociedade civil e que seus secretariados também. Além disso, as OSCs se tornam
mais confiáveis aos olhos do público quando passam por algum tipo de registro, importante
parabenizar o Governo do Estado de Rondônia pelo desenvolvimento do SISPAR. O processo, porém, não pode ser
tão complicado a ponto de desencorajar organizações menores. Além disso, convém
que o governo ofereça treinamentos e serviços online e telefônicos para que
possíveis gestores de entidade saibam como registrá-la e quais benefícios teria
com isso. Por fim, é recomendado que tenha níveis de registros diversos para
organizações com tamanhos diferentes, e as exigências devem aumentar na mesma
medida em que crescem as entidades.
2 - Regulação:
diz respeito diretamente à gestão e à accountability das OSCs. A recomendação
básica, aqui, é que sejam exigidos relatórios periódicos na medida da
capacidade e da habilidade de cada organização. Uma boa ideia pode ser a
existência de protocolos diferenciados para pequenas organizações comunitárias.
Como recomendação de longo prazo, sugere-se criar um banco de dados, acessado
por todas as entidades reguladoras, de modo que as OSCs não tenham de se
reportar para diversos organismos governamentais. A Lei 3.122 de 1 de julho de
2013 exige 3 tipos de documentos com o mesmo teor,
1. Comprovação de funcionamento
contínuo e efetivo por, no mínimo, um ano. (Essa comprovação poder ser um
relatório ou um portfólio?);
2. Balanço patrimonial e demonstrações contábeis
do último exercício;
3. E também exige o Balanço
socioambiental em conformidade com a Norma Brasileira de Contabilidade –
NBCT-15 do Conselho Federal de Contabilidade.
Importante
perceber o estrangulamento que esta acontecendo, a incoerência. Como as
organizações irão se adaptar as formas legais do Estado? Será que elas sabem
fazer um relatório socioambiental? Como as pequenas irão se adaptar? Três
documentos que podem se resumir a um só.
3 - Atribuição de status:
trata dos tipos formais de organizações sem fins lucrativos. Formas
tradicionais de associações sem fins lucrativos da sociedade civil local devem
ser legalmente reconhecidas, por meio de uma regulação simples. A sugestão de
longo prazo é que se aloquem recursos para que organizações que trabalhem com o
desenvolvimento da infraestrutura do setor filantrópico possam auxiliar as OSCs
a se adequarem às normas regulatórias.
4 - Regulação de organizações
estrangeiras ou financiadas por capital externo:
entidades nacionais devem ter liberdade de associar a parceiros estrangeiros.
Devem, também, relatar ao poder público os benefícios dessa associação para o
desenvolvimento da sociedade civil. Por fim, sugere-se que o governo permita
análises independentes de seus gastos com ajuda internacional.
Segundo uma pesquisa de opinião citada no estudo da
CAF (Edelman’s Trust Barometer), as organizações sem fins lucrativos são as
instituições consideradas mais confiáveis pelos entrevistados (63% disseram
confiar nelas). Em países com problemas de corrupção, no entanto, esse índice
tende a cair, sobretudo quando OSCs estão envolvidas em escândalos. E a
pesquisa da CAF usa um exemplo muito familiar para nós: o Brasil, imagine o
Estado de Rondônia.
Os escândalos envolvendo as parcerias entre o setor
público e organizações da sociedade civil afetaram a confiança geral no setor
filantrópico, avalia o texto. Não por acaso, as OSCs brasileiras estão apenas
em terceiro lugar na pesquisa local da Edelman, atrás da mídia e das empresas.
Mais ainda, outra pesquisa da CAF, o World Giving Index, aponta que, desde
2007, a proporção de pessoas doando para OSCs caiu cinco pontos percentuais no
país.
A publicação traz, inclusive, uma declaração de
Paula Fabiani, diretora-executiva do IDIS, parceiro da CAF. “Nós gostaríamos
que o governo falasse de maneira mais positiva sobre as entidades sem fins
lucrativos e melhorasse a regulação, ao mesmo tempo em que trabalhasse com as
organizações para melhorar sua governança”, disse Paula.

Fonte: Instituto para o Desenvolvimento
do Investimento Social (IDIS)
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A regulação do Terceiro Setor sempre é controversa dada a necessidade de avançar sobre os temas de descentralização e controle social da aplicação dos recursos públicos. Ao longo dos últimos cinquenta anos muito evoluiu no mundo esse diálogo e no Brasil especialmente de 1992 para cá com a realização da ECO 92, ocasião em que os representantes do mundo inteiro puderam discutir questões e modelos de desenvolvimento social e econômico sob a ótica de pensadores como Ignacy Saches. Programas de desenvolvimento tem sido orientados para um melhor desempenho ambiental na questão da produção com a utilização de tecnologias limpas, bem como programas de enfrentamento à pobreza evoluíram para apresentar ao cidadão formas de empreender para dar a sua família a devida sustentabilidade e renda. Rondônia demonstra com a Lei 3.122 de 01.07.2013 que está em busca de promover localmente esses avanços, especialmente porque elaborou e está homologando o sistema SISPAR - controle social para as parcerias onde o Estado e a Sociedade Civil poderão celebrar acordos de desenvolvimento com monitoria e transparência. Muito ainda precisa avaçar, mas os primeiros passos foram dados. Vamos caminhar.
ResponderExcluirGrato pela contribuição! Abraço e paz
ExcluirO Terceiro Setor no Brasil, sempre foi uma ponte para políticos mal intencionados saciar seus desejos de corrupção. Concordo que a Administração Pública, não deve e, não pode controlar e ditar os rumos do Terceiro Setor, justamente, porque se isso acontecer, perde-se a finalidade deste importante ramo social. Contudo, para que o poder público conheça o nível de qualidade, experiência, capacidade de gestão e, principalmente, a quantidade de entidades existentes na sua jurisdição, faz-se necessário implantar mecanismos eficientes para obtenção das respostas. Nesta direção é que espero que SISPAR avance, conhecendo melhor o Terceiro Setor, para ajudá-lo a se fazer mais forte e atuante em benefício da sociedade. Tenho certeza que as dificuldade serão suplantadas e com a ajuda e compreensão de todos os atores envolvidos (técnicos, políticos e dirigentes sociais), os objetivos serão atingidos.
ResponderExcluirGrato pela contribuição! Abraço e paz
ExcluirO Terceiro Setor no Brasil esta em crise civilizatória, se refazendo, reaprendendo, porque ainda esta impregnado do fazeres filantrópico e isso demanda tempo para se reinventar, reformatar, tomar prumo, rumo, norte e caminhar.
ResponderExcluirOutra coisa importante é não confundir agendas e protocolos internacionais. Uns tem chancelas e empoderamento de Instituições de "peso" as que tem grife e isso por vezes cria uma nebulosa para as novas Instituições que estão surgindo.
É mister não confundir papéis e arcabouço jurídico, pois, há finalidades distintas, embora temas sejam periféricos à missão e visão de algumas Instituições, há Organizações que se confundem em si mesmas, não tendo clareza de propósito. Porque existe? Qual seu papel na sociedade? O que pretende? Onde quer chegar? E qual seu modus operandi e vivendi, são sustentáveis ou depende sempre de recursos governamentais? Se sim, então perdem sua autonomia e o principio da isenção fica prejudicado. Fica difícil assim, ter 'poder" sobre suas ações.
Outro ponto é quando estas além de não saberem a que vieram e o que estão fazendo aqui, servem a propósitos escusos e são manipuladas por interesses difusos. Nessa métrica o poder público também engessa a atuação das Organizações do Terceiro Setor, com controle social que extrapola a esfera e os limites do próprio setor.
Outra questão são as Organizações ditas - híbridas que se misturam em propósitos, objetivos, missão, visão e linhas de poder, sendo estas as mais delicadas, pois não sabemos a quem servem. Ao Terceiro Setor? ao Segundo? ou ao Primeiro? São como empresas de economia mista ou estatais, por terem linhas de poder, recursos mesclados e atuações diversas, geram dicotomia.
Além disso, a construção de legislação sem a devida participação ativa da sociedade em geral, gera um desconforto e brechas para interpretações dúbias do que se pretende gerir, gestar, ficando assim a governança comprometida.
O ideal não é o real, mas seria interessante a elaboração de leis com consulta pública e participativa, para alinhar interesses, agendas, princípios, linhas de poder, formas de viabilizar os projetos, orçamentos participativos e melhor uso do recurso público seja qual for.
Neste diapasão, a reflexão que espero deixar é que todos estamos aprendendo mas que temos que ser participativos, saindo da esfera de crítica sem eco, para uma atitude e agenda propositiva. Foi isso que falei na reunião da preparatória com 25 países em julho de 2011, no Rio de Janeiro, como membro da Cúpula dos Povos e colaboradora no processo de construção coletiva da Rio+20.
Os problemas já os conhecemos, temos que pensar juntos em soluções criativas, agendas propositivas, e respostas à velhos problemas. Vamos juntos!
Grato pela contribuição! Abraço e paz
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