
Todas as iniciativas buscaram dar luz a um dos
quatro eixos centrais do evento: inovação, impacto, escala e redes. Segundo
Beatriz Gerdau, presidente do Conselho de Governança do GIFE, essas quatro
dimensões foram escolhidas para nortear as discussões no evento, pois podem
conferir maior diversidade de atuação ao setor, assim como melhorar a
capacidade de lidar com os problemas socioambientais do país.
“Se na edição passada do Congresso discutimos as
novas fronteiras do investimento social e, ficou claro que os limites definidos
para o tema não eram suficientes, decidimos ampliar o debate incorporando novas
reflexões. A partir das temáticas e desta interação entre elas, o objetivo foi
ajudar a repensar a nossa própria atuação, pois o investimento social privado
precisa ser pensado cada vez mais de forma integrada. As fronteiras que
separavam as ações filantrópicas, a responsabilidade social das empresas e o investimento
social de impacto, por exemplo, não estão mais claras. No entanto, a dissolução
destes limites será positiva na medida em que for feita com transparência e
diálogo com todos os públicos envolvidos”, comentou.
Na avaliação de André Degenszajn, Secretário-Geral
do GIFE, o Congresso conseguiu apresentar aos participantes novas
possibilidades de atuação do investimento social privado, assim como ajudar a
problematizar o novo contexto atual pelo qual não somente o setor passa, mas
toda a sociedade.
“Talvez a principal mensagem do Congresso foi de
que o nosso trabalho precisa ser capaz de promover transformações efetivas na
sociedade e nas realidades sobre as quais a gente decide incidir. De alguma
maneira esse evento é um divisor de águas, de um modelo de atuação para outro,
que está muito mais pautado pela capacidade de produzir incidências e
resultados concretos, tanto nesse ambiente em que o investimento social está,
quanto na capacidade de dar ferramentas e subsídios para qualificar o
investimento de cada um de seus associados”, destacou.
Transformações e inovações
A programação do Congresso foi intensa, com a
presença de mais de 70 palestrantes nacionais e internacionais que estiveram à
frente de mesas de debates, plenárias e oficinas, promovidas também por
associados do GIFE.
Logo no início do evento, a plenária de abertura
incentivou os participantes a refletir sobre as tendências que deverão
influenciar o desenvolvimento do investimento social e da sociedade civil no
Brasil nos próximos anos, principalmente diante das transformações provocadas
pelas novas tecnologias de informação e comunicação e pela construção de novas
redes e formas de associação.
Lucy Bernholz, do Centro de Filantropia e Sociedade
Civil da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA), destacou que a nova
economia gerada na sociedade digital tem tido impacto direto também no
investimento social, pois a partir das relações e aproximações permitidas pelas
novas tecnologias, diversas limitações não existem mais.
Assim, se antes os recursos privados para fins
públicos tinham poucas possibilidades de interação, hoje tem aumentado o número
de escolhas. Agora, é possível ativar várias redes e unir espaços, pessoas e
organizações que estavam dispersas, fortalecendo as ações. Uma novidade, por
exemplo, é o crowdfunding, com a criação de plataformas digitais para o
apoio a projetos sociais.
“Algumas coisas que antes achávamos que não
faziam parte do trabalho social agora fazem. As pessoas estão se voluntariando
de formas novas. Elas podem ser voluntárias orientando alguém por meio do
celular ou criar uma rede entre amigos para promover uma ação de melhoria do
bairro. Essa rede vai ser ativada em outras causas sem se formalizar enquanto
instituição ou organização social. E isso está acontecendo em todo o mundo”,
destacou Lucy.
Denis Mizne, diretor da Fundação Lemann, sinalizou
ainda a importância dos investidores Era digital exige cada vez mais das
pessoas, agilidade nas ações e nas respostas às demandas colocadas. “Hoje
não podemos mais passar meses planejando, desenhando projetos e depois
analisando-os. O mundo digital mostra que teremos que tomar decisões rápidas,
até apostando em tentativas e erros. Além disso, precisamos pensar em como
vamos conseguir incorporar esse princípio de sociedade em rede para catalisar a
transformação social, sem ficarmos tão deslumbrados apenas e sem saber de que
forma atuar”, pontuou.
Outra plenária que reuniu mais de 130 participantes
do Congresso foi a que discutiu “Mobilização e políticas públicas”. Ricardo Henriques,
superintendente executivo do Instituto Unibanco, que mediou à conversa,
enfatizou aos presentes o caráter inovador do evento, por trazer essa temática
numa discussão sobre investimento social privado. “Isso demonstra o novo
posicionamento e o movimento real que o GIFE está buscando trazer para o setor.
Sabemos que não há como pensar solidamente os papéis dos institutos e fundações
se não formos ao encontro deste diálogo com as múltiplas configurações da
sociedade civil e os diversos atores que estão presentes nela”, enfatizou.
O advogado Pedro Abramovay, diretor para a América
Latina da Open Society Foundations, lembrou que o assunto da mobilização não é
novo, pois as mais efetivas políticas na história da humanidade foram feitas a
partir de grandes mobilizações, mas a principal novidade é como os governos e
as instituições públicas vão se relacionar com as pessoas frente à complexidade
e as novas oportunidades de interação que as tecnologias trouxeram.
Segundo o especialista, todas as economias da
intermediação, ou seja, aqueles que viviam de serviços de intermediação, como
uma agência de viagem, por exemplo, foram afetadas pela tecnologia, sendo
preciso mudar radicalmente, se reinventar para não perder público e consumidor.
No entanto, a política, que também faz parte desta economia, já que atua por
meio da representação, tem sido uma das mais resistentes às transformações da
internet.
“Temos hoje instituições desenhadas numa
sociedade fabril tentando ser eficiente em uma sociedade em rede. Evidente que
não vai dar certo. Tem um abismo gigantesco entre a sociedade e essas
instituições. Assim, a política precisa se engajar com as pessoas nessa nova
lógica, que multiplique e some. Precisamos ter a coragem de reformular nossas
instituições de maneiras tão radicais para permitir que essa interação das
pessoas com o governo seja cotidiana, complexa e esteja afinada com o tipo de
sociedade atual”, comentou Abramovay.
Durante a atividade, os palestrantes tiveram a
oportunidade de apresentar algumas experiências de sucesso em mobilização
visando causas sociais, como as realizadas pelo Meu Rio. Trata-se de uma rede de
mobilização, com mais de 120 mil pessoas cadastradas – a maioria jovem de 18 a
29 anos - que busca participar ativamente dos processos de decisão da cidade.
Baseada em critérios públicos, uma equipe
multidisciplinar responsável pela iniciativa seleciona algumas das mobilizações
para dar um suporte ainda maior, com estratégia, pesquisa, articulação e comunicação.
A equipe também facilita a comunicação entre os membros da Rede Meu Rio para
que eles se auxiliem, dedicando voluntariamente seu tempo e seus talentos para
aumentar o impacto de suas mobilizações.
Alessandra Orofino, uma das criadoras do movimento,
destacou a importância das ações de mobilização não se restringirem ao ambiente
da internet, mas, sim, terem iniciativas ditas offline, ou seja, com
intervenções presenciais. “Usamos a tecnologia para nos organizar, pensar em
soluções e propor políticas públicas, assim como para pressionar o
governo. As ferramentas digitais são relevantes no sentido de acesso e também
de tempo mesmo. Mas, é importante sempre ter essa ponte com o ‘mundo real’”,
enfatizou.
Na opinião da ativista, outra questão fundamental
para a atuação de um movimento como o Meu Rio, foi a definição clara dos
princípios e valores com os quais estariam ligados e o tipo de ações que não
fariam, mesmo com apoio financeiro. Por isso, o grupo decidiu não trabalhar com
temas específicos de mobilização, como educação ou saúde, por exemplo, a fim de
evitar serem contratados para prestar serviços.
“Não que isso seja um problema, sempre, mas como
trabalhamos com ampliação de espaços de participação, ficamos com receio de
chegar a ser comissionados para pautar temas específicos. A nossa ideia é
reformar instituições políticas”, apontou.
O Congresso contou ainda com diversas mesas de
debate que discutiram outras temáticas como os dilemas do alinhamento entre
negócio e investimento social; o que a sustentabilidade das OCs tem a ver com
investimento social; investimento social privado em políticas públicas; entre
outras.
Fone: GIFE
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